Se ainda não conhece a vila de Alcochete, ou pretende saber mais sobre a Vila, este roteiro foi criado para si. Deixe-se perder no Núcleo Antigo e, entre ruas, largos e becos pitorescos, descubra edifícios que exibem uma imagem patrimonial singular, solares que nos remetem para outros tempos e Igrejas que são testemunho da fé das gentes locais e que se destacam no património edificado local. Terra de salineiros, marítimos e forcados, mas também de reis, Alcochete é uma terra com história que manteve o seu charme e autenticidade até aos dias de hoje.
Largo de São João
O Largo de São João é o ponto de partida deste roteiro cultural. No centro do núcleo urbano, o Largo de São João foi, no século XVI, uma área fora do aglomerado urbano ocupada por quintas agrícolas e local de lide de toiros. Uma realidade bem diferente da dos dias de hoje, em que o Largo de São João assume-se como um dos Largos mais frequentados por residentes e visitantes, com cafés e restaurantes que convidam a um momento de descontração que pode, muito bem, ser o pretexto para apreciar o quotidiano desta Vila à beira-tejo plantada. Mas, mais do que um espaço que convida ao lazer, o Largo de São João é, também, uma área do Núcleo Antigo onde poderá apreciar vários testemunhos históricos.
O antigo solar dos Pereiras, atualmente ocupado pelos Paços do Concelho, foi construído em finais do século XVI por Gomes Netto Pereira. A sua atual fachada neoclássica apresenta um conjunto de elementos decorativos únicos na arquitetura da Vila, com um varandim de balaústres em pedra, sobre o qual se desenvolve um frontão curvo, apoiado em colunas, interrompido no centro pela estátua da República. Em 1996/ 97, a Câmara Municipal requalificou este edifício, adaptando-o para novas utilizações.
No centro do Largo, encontramos ainda a estátua do Padre Cruz, datada de 1969, que evidencia uma das pessoas mais queridas e devotadas, em Alcochete e no País, e um dos elementos identitários da vida local: o Poço de São João, que foi recuperado pela Câmara Municipal em 2009 e está intrinsecamente associado ao imaginário coletivo da comunidade local, uma vez que durante séculos e até 1943, foi o principal ponto de abastecimento público de água na vila de Alcochete.
Do ponto de vista arquitetónico, destaque ainda para os edifícios, com os números 12, 17-18 e 19-20, que são exemplos de arquitetura habitacional de inícios do século XX, cuja diversidade e riqueza de elementos decorativos importa referir.
Por último, a Igreja de São Baptista, que também é a Igreja Matriz, é, desde 1910, monumento nacional e assume-se como o mais importante imóvel de património cultural do Concelho e um elemento identitário nacional, evidenciando o estilo manuelino.
Largo Almirante Gago Coutinho
Prosseguindo para o Largo Almirante Gago Coutinho, do lado norte da Igreja Matriz, podemos contemplar vários edifícios, cujas fachadas preservaram o estilo Arte Nova, visível nos azulejos com figuras, balaustradas de cerâmica, estátuas e jarrões e vãos em cantaria. A Casa Moysém ou Moisém (n.ºs 1 e 2), a Casa de António José Garrancho (n.º 29), a Casa dos Bustos (n.ºs 31 e 32) são edifícios merecedores de atenção.
Para os admiradores de doçaria tradicional, é obrigatória uma paragem neste Largo, uma vez que é onde se encontram as duas padarias “Piqueira” e “Popular” com fabrico próprio. Entre as várias iguarias que, diariamente, podem ser saboreadas e adquiridas nestes dois estabelecimentos com fabrico próprio, destaque para a Fogaça de Alcochete, que se distingue pelo seu sabor e textura ímpares.
No Largo Almirante Gago Coutinho, encontra ainda um espaço ajardinado e o Coreto, inaugurado a 15 de Janeiro de 1956, no âmbito do 58.º aniversário da Restauração do Concelho.
Com a bússola apontada para a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, passe ainda pela Rua Comandante Sacadura Cabral e espreite a arquitetura da Vivenda Matilde (n.ºs 10 e 12) e siga o seu percurso pela Rua Beato Manuel Rodrigues, onde encontrará a Casa António Silva (n.º 2).
Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e Rua do Norte
Chegando à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, no limite norte da Vila, tem como paisagem de fundo o Estuário do Tejo, um cenário que, em dias de Verão, assume uma beleza natural única e edílica para os amantes da fotografia.
É também nesta Avenida, que está imortalizada a homenagem de Alcochete à diva do fado, com o Miradouro Amália Rodrigues.
Seguindo da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra para a Rua do Norte, e sempre em estreita ligação com o rio Tejo, parta à descoberta da Igreja de Nossa Senhora da Vida, imóvel de interesse público desde 1996, e do Bairro das Barrocas, um bairro típico que, pela sua localização e tipo de construção, foi habitado predominantemente por gente ligada às actividades tradicionais como salineiros, marítimos e pescadores. Com um cariz assumidamente popular, este Bairro contrastava com o Largo de São João que era habitado pela burguesia.
Largo da Misericórdia
O Largo da Misericórdia marca a entrada ocidental da Vila e reúne um conjunto de elementos que são indeléveis testemunhos da história local. Destaque para o Padrão comemorativo do nascimento de D. Manuel I (1469 – 1521) que reúne algumas referências à sua vida e às descobertas que foram alcançadas no seu reinado.
No âmbito da requalificação da Frente Ribeirinha, que a Câmara Municipal concretizou em 2012/ 13, o Padrão encontra-se agora emoldurado por uma renovada e Roda do Ventos.
Edificada na segunda metade do século XVI, a Igreja da Misericórdia assume uma predominância na arquitetura do Largo da Misericórdia, estando ainda associados a este edifício o Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal e o Posto de Turismo de Alcochete.
Do ponto de vista arquitetónico, repare na fachada do edifício n.º9, onde ainda existe uma pedra de armas da família Beliago (proprietária em Alcochete durante o século XVI) e, já na confluência entre o Largo da Misericórdia e a Avenida D. Manuel I, o Solar dos Netos.
Ponte-Cais
Integrado na envolvência do Largo da Misericórdia, a Ponte-Cais é ainda muito utilizada como infraestrutura de apoio à atividade piscatória e igualmente frequentada por visitantes e moradores que elegem este equipamento para um agradável passeio em plena harmonia com o rio.
Noutros tempos, a Ponte-Cais foi utilizada para a acostagem de embarcações de maior dimensão, como o vapor de Alcochete. Até aos anos 50 do século XX, a ligação fluvial entre Alcochete e a capital foi assegurada pelo “cacilheiro” Alcochete, popularmente conhecido por “O Menino”, da Empreza Portuguesa de Navegação.
Passeio do Tejo e Avenida D. Manuel I
O Passeio do Tejo é, sem dúvida, um dos principais cartões-de-visita do Concelho de Alcochete. Distinguindo-se como uma área de excelência junto ao rio para momentos de lazer e descontração, o Passeio do Tejo foi inaugurado em Abril de 2013 e, na prática, traduziu-se num avanço da muralha em quinze metros (m) sobre o rio.
Integrado numa ampla intervenção de Regeneração Urbana, concretizada pela Câmara Municipal em estreita parceria com outras entidades, o Passeio do Tejo veio enriquecer a Frente Ribeirinha de Alcochete, uma área nobre da Vila, com um forte simbolismo para a comunidade local, dada a sua íntima relação com o rio.
Percorra o Passeio do Tejo e observe ainda algumas embarcações tradicionais que dão um colorido especial ao rio ou contemple o Largo e a Igreja da Misericórdia de uma outra perspectiva. Antes de atravessar para o Largo Barão de Samora Correia, repare na estátua de corpo inteiro, em bronze, que representa D. Manuel I, o 14.º Rei de Portugal, a quem chamariam de “O Venturoso” e que nasceu em Alcochete, no ano de 1469.
Largo Barão de Samora Correia
Ao realizar o percurso em sentido inverso, em direção ao centro da Vila, repare nos pormenores da fachada da Casa dos Beirados e na Quinta da Praia das Fontes (antigo Solar dos Soydos/ Casa dos Pattos) que é mais um exemplo da imponência dos solares alcochetanos.
De regresso ao Largo de São João
Para finalizar este percurso pedestre pelo Núcleo Antigo da Vila, regresse ao centro da Vila, mas com outras coordenadas: siga em direção ao Largo do Troino, passe pela Rua José André dos Santos, onde está sedeado o Aposento do Barrete Verde e o Museu Taurino. Prossiga o seu percurso pela Rua do Século, conheça o Largo da República, desça a Rua do Paço e, chegando, ao Largo Almirante Santos Jorge, já avista o Largo de São João.
(cm-alcochete)